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terça-feira, 14 de junho de 2011

Os gorilas e a importância do fator humano nos hospitais

Quando eu estava na faculdade, existia uma citação atribuída a um dos antigos professores que dizia o seguinte: se você colocar meia dúzia de gorilas nesta faculdade, eles podem demorar mas acabam se formando. A partir dessa frase fiz várias conjecturas, mas a que me parecia a mais apropriada tinha duas dimensões interligadas.

A primeira delas diz respeito à importância da herança comportamental que os profissionais da área devem ter para o exercício da profissão. Os fatores tangíveis, ou seja, o conteúdo curricular, estágios e trabalhos em geral são objetivamente aferidos através de escalas consagradas de valores adotadas pelas instituições de ensino e seus avaliadores. Ou seja, a informação técnica e objetiva pode ser passada a todos, o que não ocorre com os valores, crenças, expectativas, postura e aspectos relacionais, éticos e comportamentais próprios de cada um e adquiridos ao longo da sua limitada vivência até então.

A segunda refere-se à aplicação deste manancial e atributos mensuráveis apenas por aqueles que vivem o universo da gestão de pessoas e sabem exatamente o tipo de profissional que querem para si, levando em conta exatamente esses aspectos difíceis de serem aferidos por quem não está capacitado a reconhecê-los.

O especialista Antonio Carlos Salles deu uma entrevista no Jornal A Tarde de Salvador, Bahia, em que comenta alguns desses aspectos, e ilustra com dados interessantes: 87% das pessoas são contratadas em função de questões técnicas, mas 92% são demitidas por questões comportamentais. Não é um disparate? Ou os setores de Rh selecionam mal nesse aspecto, ou não existe nenhuma estratégia organizacional para acompanhar de perto a atividade profissional do contratado. Ou ambos.

Imaginem então uma organização com suas muitas complexidades e peculiaridades chamada “hospital”. Imagine também a forma fragmentada como os serviços em geral são prestados, por seus diversos profissionais. E, aí vem o pior, imaginem os inúmeros médicos que fazem parte do Corpo Clínico prestando seus serviços de forma independente e frouxamente atrelados às rotinas da organização.

Gestão do Corpo Clínico deveria ser levado mais a sério. Vale a pena investir. Por mais que se discutam os fatores responsáveis pelo estado atual das coisas, no fundo chega-se à mesma conclusão: o envolvimento dos médicos, não importa em que proporção ou modelo, é fundamental para o sucesso de qualquer organização hospitalar.

Fugir disso é tentar fazer como os gorilas: vai demorar, mas vai se formar.

Mas, quando acontecer, vai haver tempo para competir com quem saiu na frente?